domingo, 11 de maio de 2014

Sobre ser MÃE

(dando uma pausa na minha ausência por aqui porque eu precisava escrever)

Nas primeiras semanas com a Alice aqui em casa, após chegarmos do seu nascimento, me vi sem identidade, querendo voltar logo a trabalhar, a sair de casa... desejei ser solteira de novo pra poder engravidar lá pelos 35. Desejava e passava horas com Alice no peito, porque por outro lado eu queria vencer a amamentação, já que no parto tinha fracassado (pensava assim). Estava enfiada em um luto confuso, não encontrava em ninguém uma forma de falar sobre o que se passava e escondia até de mim, pois me sentia horrível por não poder falar aquilo que ouvi tantas mães falarem: eu amei minha filha e me senti realizada assim que a peguei no colo.

Eu ainda não sabia que era super normal. Chorava todo dia. Toda hora. Me sentia escrava, sem recompensa e me perguntava aonde é que tava a tal da recompensa em ser mãe. O pai da Alice falava "ela é linda, não? Eu amo tanto, você também ama, né?" E eu abaixava a cabeça e dizia que sim, mas eu não sabia o que eu sentia, eu só queria me olhar no espelho e me reconhecer.

Eu me doei 300% naquela época para conseguir dar o melhor pra ela. Eu dormia na poltrona de amamentação e acordava depois de algumas horas com o pescoço dolorido escutando o ronco do namorado, que dormia profundamente ocupando todo o espaço da nossa cama. Eu chorava porque eu queria estar lá naquele lugar confortável também. Eu sentia minha cicatriz arder e chorava porque eu não conseguia me conformar com o nascimento dela. Eu a colocava no moisés, ela acordava e lá estava eu de volta na poltrona. Eu precisava mostrar que estava feliz, eu precisava conseguir falar que eu a amava, todas as mães falavam isso com a maior naturalidade pelas fotos que eu via no Facebook e muitas vezes me forcei a postar algo para me sentir "normal".

Para piorar, pediatras vieram me dizer que meu leite não era suficiente. Eu não podia fracassar mais uma vez! Era óbvio que eu amava aquela criatura que berrava em meus ouvidos. Seus berros eram simplesmente meus berros ocultos e não berros de fome. Ou eu afundava de vez ou eu superava. Superei. Pós parto, puerpério é uma loucura. Com ela pendurada no peito, passei a apreciar madrugadas. Com ela pendurada no meu peito, tive a oportunidade de ver chuvas que ninguém via. Vi sol nascer por dias. Seus berros sumiram. Meu leite era mesmo suficiente. A amamentação exclusiva, ninguém me tiraria. Não é que eu não a amava, é que eu ainda sentia que eramos uma só. Era óbvio esse amor, já que eu me amava e não precisava falar "eu me amo" o dia inteiro. Alice tinha saído de mim de forma brusca, mas eu não tinha tirado ela daqui ainda.

Foi mais ou menos 4 meses depois do seu nascimento que ela nasceu pra mim e até hoje está nascendo, bem aos poucos. Ainda acorda durante as noites. A gente se olha, ela vai pro peito e eu apago. Ela apaga. Aprendi a amamentar deitada e muitas vezes acordo e vejo que ela acabou dormindo lá no meio da cama, entre seu pai e eu. Parei de ver as acordadas na madrugada como sofrimento, parei de reclamar e me conecto com ela a cada resmungada, mesmo que seja de hora em hora por causa de dentes, de calor, de frio ou de qualquer coisa só pra me falar: mãe, tô aqui, viu? Ou: mãe, preciso de você agora, rapidinho.

Hoje continuo me doando 300%, 1000%. Me entrego além dos meus limites. Virei uma fissurada em maternidade, muito mais do que eu já era. Estudo como nunca estudei na vida sobre tudo que envolve filhos. Aprendi a amamentar e a cozinhar. Deixei de trabalhar fora, deixei meu emprego.

Tenho passado novamente, depois de 8 meses, pela fase de me olhar no espelho e não me reconhecer. Não me reconheço nas roupas, no cabelo, no estilo de vida. Me sinto realizada, mas me sinto só.
Não sei falar de outros assuntos que não sejam filhos, saúde de filhos, alimentação de filhos. Penso que os outros devem me achar chata. Não largo Alice por mais de 2 horas, é difícil sair com amigos como antes. Não estou preparada para isso e muitas vezes em alguns encontros, preciso de um canto para amamentar, trocar fralda, ninar para dormir. Essa é minha vida agora. Uma vida que amo, que quero por muito tempo e que me traz conflitos. Sinto falta de conviver com outras mães. Vejo o marido saindo com amigos, mesmo que seja bem esporadicamente, e me sinto só, sinto com vontade de pedir que não vá e me sinto egoísta. Mas como posso ser egoísta se sou mãe? 

Ser mãe é o maior desafio que um ser humano pode passar na vida. 

Feliz Dia das Mães



13 comentários:

  1. Carolzinha, minha querida amiga,
    Estava desligando o pc, morrendo de sono, qdo vi que tinha uma atualização sua e como NUNCA resisto aos seus textos, vim aqui dar uma lidinha e pensei: "Amanhã eu comento"... Mas não aguentei, então vamos lá:
    Primeiro, preciso dizer que admiro IMENSAMENTE sua sinceridade e o modo como escreve com verdade, com intensidade, com sentimento... Entendi exatamente o que quis dizer com ainda sentir que eram uma só, demora mesmo pra nos darmos conta que o bebê saiu da gente, nos reconhecermos como outro individuo, separadamente... Nossa, isso dói mesmo... Me lembrei imediatamente do post que nos "apresentou", vim parar aqui no seu blog, sei lá como e li um texto seu falando de sentimentos parecidos, ainda qdo estava grávida, bem no início, vc de certa forma confessava ainda não sentir este amor todo... (Eu até queria buscar o post e o meu comentário, mas o sono e a preguiça me dominam neste momento...) Bem, neste post em questão vc tb dizia não sentir este amor absurdo por um bebe que ainda estava na sua barriga... Lembro do meu comentário dizendo que assim que ela nascesse e tão logo vc olhasse pra carinha dela, isso mudaria dentro de vc... Enfim, não me lembro direito, mas este post me marcou, pq achei tão bacana uma gravidinha ter "coragem" de se revelar desta forma, passei a te admirar... A te seguir... Pq gosto de gente assim como vc: gente de verdade!
    Enfim, para o texto espetacular que vc escreveu agora, só tenho a dizer que embora comigo não tenha sido exatamente assim, eu te entendo, sei do que vc está falando... Qdo o Davi nasceu, bem no comecinho, eu tb fiquei meio confusa... Lembro que qdo ia amamentar, eu chorava mto de dor e um dia meu marido me perguntou/afirmou:"Vc não ta feliz, né mor?!" E eu simplesmente balancei a cabeça que não, em seguida abaixei a cabeça de vergonha por ter confessado e chorei, chorei mto, molhei o rostinho do Davi com mhas lágrimas... Mas me dei conta que não me sentia feliz, não era por falta de amor, pq este já transbordava em mim, era justamente por me sentir refém da
    situação...
    Enfim, e por último: No seu último parágrafo eu apenas mudaria: 8 por 9, Alice por Davi e 2 horas por 1 hora!

    Beijo enorme, ótima semana pra vc!
    http://meupequenoreidavi.blogspot.com.br/

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  2. Nossa, Carol... Fiquei sem ação ao ler. Adoro quando as mães põem esses temas abertos ao coração de outras pessoas. É forte e intenso. Conselho? Não sei dizer porque creio que cada mãe é um caso, ainda que feliz, ninguém pode julgar sem realmente saber como é estar na sua pele. Olho para meu blog e ele mudou por conta própria, eu tinha uma ideia, e ele foi por outra, quis acabar com ele, e ele não me deixou (ou eu?). Vivo dançando com ele, a dança do blog doido, o samba-enredo da alegria. Se for abrir outro e necessitar de colaboradores (para assuntos nçao-paternos-maternos), eu topo kkk bjs

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  3. Senti muito isso Carol, tive início de DPP e me sentia horrível por isso afinal tinha realizado meu maior sonho. Mas acho que era cansaço misturado com medo, misturado com tudo!
    E para ajudar Lorena tem refluxo, escutei e ainda escuto palpites de todos os lados mas hoje só faço o que quero pq ela é MINHA filha, minha vida, meu tudo!
    Chorei horrores tb no começo e hj choro de alegria com cada sorriso, cada angu, gui ou o que quer que seja, somos mães de verdade e não de comercial de margarina!

    E assim como a Marcela tb mudaria poucas coisas em seu último parágrafo, ainda me sinto sozinha nesse mundinho!! Quem me salva são vocês!!

    Beijos

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  4. Que lindoooo! Apesar de saber que não é fácil, quero mais que tudo essa vida de mãe ♥
    Feliz dia das mães,atrasado rs.

    Beijos

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  5. Escrevi quase o mesmo ontem...a diferença é que eu não passei por um baby blues, mas eu naõ me sentia ligada demais ao Thomas assim que ele nasceu. DEmorou alguns dias pra que eu o amasse de fato e hoje, movo montanhas por ele!
    Maluca mesmo essa maternidade, nos muda demais e relaxa, eu tb só falo dele! outro dia me peguei discutindo cocô com minha prima! hahahahah
    Bjoks e ótima semana

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  6. Boa tarde!
    Incrível como você conseguiu traduzir com palavras exatamente o que passei e o que estou sentindo... eu mesma não conseguiria. Em cada frase escrita vi em mesma neste post.
    Lembro que passei o mesmo que você, aí, entrava em diversos blogs, lia relatos apaixonados de partos e de primeiros dias dos bebês, sentia inveja da situação, e pensava ser eu a diferente.
    Antes de meu filho nascer, eu pensava que 40 dias seriam completados, e estaria meu filho, aos cuidados de outra pessoa, e eu, de volta ao trabalho, passeando com o marido, fazendo abdominais durante a noite, aproveitando as refeições para fazer uma dieta e eliminar em dois meses quase 20 kgs! Que engano!
    Quando ele nasceu, me vi também sem recompensa alguma, uma escrava lidando com um bebê que não interagia nada comigo, passando noites em claro, com o peito doendo, rachando sangrando, trocando fraldas. Entendo bem o que você diz... Também demorei para perceber que eu sou eu e ele, ele. Quando o peguei pela primeira vez, lembro de ter sentido medo, e assim aconteceu também por algum tempo. Não sabia bem como lidar com ele e sentia medo de absolutamente tudo: de não conseguir alimentá-lo, de não compreendê-lo, de que suas roupas não estivessem bem esterelizadas, de que eu permitisse que alguém fosse visitá-lo e passasse alguma doença contagiosa (rsrs), de que eu não conseguisse fazê-lo arrotar e ele ficasse engasgado durante o sono.. tudo que pudesse passar à alguem fazer, passava. Demorei para perceber que ele precisava de mim e só de mim e para compreender cada choro e olhar dele.
    Hoje, tudo tem sido muito bom! Da mesma forma que você descreve! Tenho criado ele com apego, me vejo grudada nele 24 horas por dia! Minhas preocupações diárias tem sido ele, seu bem-estar, sua alimentação, sua rotina! Respiro meu filho!
    Incrível como tudo muda com o tempo. Também não me reconheço, meu corpo é diferente, meus gostos, meus objetivos. Sou a mesma chata que você descreve. Não me vejo voltando ao trabalho e nem pretendo deixar meu filho aos cuidados de outra pessoa tão cedo. Não sou mais a minha prioridade, nem minha felicidade, nem meu bem-estar. Vejo minha felicidade na felicidade de outra pessoa.
    Agora tudo parece mais fácil. Durante à noite também levo ele para a cama sem culpa nenhuma, amamento e dormimos juntos! Às vezes ele quer só um cheirinho, pegar meu dedo, se aconchegar, é lindo!
    A confusão inicial passou, agora acho que só tende à melhorar!
    Boa semana!

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  7. Nossa Carol, eu no meu caso não mudaria nem o nome do bb! rs
    A única diferença eh que sentia esse amor que tantos dizem desde a barriga e achei que isso bastava.
    Bastava pra suprimir os momentos difíceis, o cansaço, a perda de identidade...e tem horas que não dá.
    As vzs ainda choro nas madrugadas e ainda me questiono se sou outra pessoa além de mãe ...
    E como sempre digo, adoro seus textos!
    Obrigada por escrever sobre coisas que teimamos em deixar escondidinhas...

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  8. O que eu posso comentar aqui? Hum... só o que já comentei em outros posts seus: eu amo seu jeito de escrever, Carol! Amo maternidade e todos os assuntos sobre maternidade! E amo a sabedoria que você passa nessas linhas.
    Beijos, Rita

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  9. Ah os 300% de doação e a busca eterno de quem fomos e de quem somos agora. é bom ter pessoas que falam com a sua sinceridade, a gente se sente mais humana com nossas próprias angústias em relação a maternagem. Abraços, Daniela. http://crescerdepoisdevoce.blogspot.com.br/

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  10. Seu texto foi um dos melhoressssssss que eu li!!!! Descreve direitinho!!! Seguindo o blog!!! Beijos

    http://sendomaeaos20.blogspot.com.br/

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  11. Eu tbm sinto tudo isso que vc escreveu. Me sinto sozinha, não me reconheço no espelho. Tbm nao trabalho e minha vida é meu filho.
    E é bem complicado né?
    Mas acredito que com o tempo a gente se adequa melhor. E no meu caso, como meu filho ja tem 2anos, decidi arrumar um emprego.
    Mas vamos ver.
    Beijos

    querouboumeucoracao.blogspot.com

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  12. Amiga na real? faço das suas palavras a minha, a unica diferença é que eu me toquei que eu era uma e o gui era outro quando ele completou seus 1 mes e poquinho. Mas mesmo assim, nao rolou aqueles amor a primeira vista NÃO.
    Mas hoje em dia quando eu penso naquele momento eu acho ele unico, tipo o momento lindo, eu esqueci o sentimento que eu sinti no momento sabe, eu só consigu alimentar o amor que eu sinto por ele depositando isso desdo primeiro dia de vida dele, vc entende +- ?
    rsrsrsrs
    Continue assim amiga, sendo sincera, me identifico muito com vc.
    Fiquem com Deus
    bjoo

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  13. Vc parece tão segura em transpor seus sentimentos em palavras, sem palavrões e cheia de enoçoes verdadeiras.
    Parabéns!
    Sempre leio sobre esse amor e nem sei como nem quando começou!
    Quando escaldava a banheira com água fervente três vezes antes de banhar o bb?
    Absolutamente ñ sei a ignorância me salvou de tantas coisas q leio na blogosfera.
    Ñ deu tempo e tvz até nem se falava nisso.
    O bb tinha apenas quinze dias extinga de fazer passaporte pra trocar de país, tava horrível, cabelo sem química (o amor explosivo coneça por esses gestos...) e como marido lembra de aplique mais parecia uma bruxa!!!
    Tive meu bb aos 26 tbm, primeiro neto de 4 filhas, por ñ saber cuidar do umbigo ele apodreceu e meu bb teve infecção e foi pro antibiótico...
    Sofrer? Ñ sofrí, eu simplesmente ñ sabia pq ele chorava sem parar, apenas sabia e q bb chorava e jurava de pés juntos q JAMAIS voltaria a ter um!
    A ignorância me salvou, bendita seja ela pq enquanto eu trêmula de exaustão ñ tinha firças pra segurar meu bb pra amamentar, minha mãe segurava, o paivroncava a plenos pulmões e eu apenas achava q en três meses tudo passaria! Era o q as amigas de minha mãe diziam e eu achava q em três meses estaria morta e sepultada.
    Sinta-se abraçada! Lutei contra a maré e até comprei um LA pro pai e pra minha mãe me deixarem em paz e na esperança de q era capaz vencí e amamentei até meu bb ñ querer mais aos 2a e 8 m!
    O parto foi cesaria por escolha minha, a médica ainda me torturou longos dias por $$ e nem voltei pra tirar os pontos com ela pq passei a detestá-la pela falta de respeito.
    Enquanto tentava amamentar, a secr. dela pedindo q retirasse o $$ da portaria e entregasse na mão dela pois ela queria pagar a equipe escolhida de imediato e ñ 30 dias.
    Pois bem...
    Ser pai é fácil... Quero ver ter peito e ser mãe!
    Forrrrrça sempre e informação pra vencer os obstáculos!

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