sendo abraçada por mim, que tenta ser fit e segura a câmera com uma
vaquinha no meu joelho com uma plaquinha sinalizando "proibido leite de vaca"
Assim que tirei o leite de vaca e
seus derivados da minha alimentação, minha vida murchou, opa, mudou. Como
precisei fazer isso de maneira radical por conta da alergia da minha filha
Aurora, que mama em mim, de um minuto para o outro eu não podia comer quase
nada.
Nada.
Na minha casa tinha leite do chão ao teto e seria mais fácil se eu pudesse ingerir coisas com traços, mas não. Se uma comida havia sido feita num mesmo recipiente onde já tinha ido algo com leite, já era. Até azeitonas podiam conter leite, caso passassem num mesmo maquinário de algum outro produto com leite. Alguns corantes possuem leite, salame, conservantes... Então primeiramente veio uma fome ingrata por conta da abstinência, já que os chocolates, as pizzas, os crepes, os iogurtes e os sorvetes que eu beliscava diariamente desapareceram. Eu comia tapioca com ovo e frutas o dia todo (almoço era tranquilo) até eu aprender a ler rótulos, até Marco Túlio aprender a fazer pães. Em uma semana perdi 5kg.
Foram dias
difíceis de péssimo humor da minha parte, mas fui adaptando e com a ajuda da
minha mãe, que entrou nessa comigo tirando todos os traços da cozinha dela, eu
e Marco Túlio começamos a dar uma respirada fora da cozinha. Comecei a tolerar
tranquilamente as pessoas comendo bolos de brigadeiro perto de mim.
Escondidinho com aquele queijo derretido, pizzas, etc. Eu fiquei zen.
Alfarroba, chocolates de marcas que eu não conhecia – e bem caros - entraram na
minha vida e me fizeram feliz.
O que parecia
uma tortura, um drama sem fim, foi se transformando em algo bom. Por exemplo,
eu comecei a valorizar muito as companhias, já que quando vou a algum evento,
casamento, aniversário ou reunião de amigos, é EXCLUSIVAMENTE para prestigiar a
pessoa. Não penso, por exemplo, em ir para comer algo gostoso do buffet. Penso
em ir apenas para prestigiar quem me convidou, as amizades, ouvir as conversas
e rever amigos. E nem sempre dá pra levar uma marmita ou comer antes de sair,
então minhas saídas são realmente pra prestigiar pessoas.
E por ficar meio
parada vendo as pessoas comerem, comecei a reparar também no quanto as pessoas
são gulosas. Comem sem ver o que comem, mandam pra dentro e continuam o
assunto, mal mastigam. Claro que me incluo aí. Reparar nos outros comendo me
fez refletir bastante na forma como eu como, ou apenas engulo uma comida. Outra
coisa boa foi aprender mais ainda a cozinhar. Eu já havia mudado um pouco meus
hábitos alimentares assim que Alice começou a comer, mas ainda comia muita
besteira escondida, tanto que sorvetes faziam parte do congelador. Açúcar...
ah, o açúcar... sumiu de repente, me deixou louca... foi sendo substituído por
frutas e aos poucos me adaptei. Até eu aprender a fazer meus doces, claro,
porém, como eu preciso fazer tudo, até o “leite” não é sempre que tem doces
aqui.
Ainda assim o
leite de vaca me faz falta em alguns momentos. Por exemplo, pudins. Minha mãe
faz pudim com suco de laranja que é uma delícia. É bem mais leve que o pudim
delícia de Leite Ninho que ela também sabe fazer, mas esse de Leite Ninho “dá uma
onda” hahahahahaha e o de laranja dura mais na geladeira, é tranquilo e eu
tento ficar comendo o açúcar em calda do pudim pra ver se dá aquela sensação de
“enchimento” no estômago, mas não dá. Queijos e requeijões, que saudade...
Nos últimos
meses tive recaídas de humor. Fiquei louca de raiva dessa dieta e com vontade
de comer tudo que eu não podia. Ainda não sei se foi por questões de ansiedade
ou estresse com as situações da vida, mas ficou tudo difícil novamente. Foi
difícil ver pessoas comendo perto de mim, minhas marmitas não estavam legais,
enfim, eu quis ficar trancada em casa. Passou.
Se é
coincidência, não sei. Mas meu cabelo melhorou e as celulites deram uma trégua.
Eu sou uma pessoa geneticamente programada para ter 50 celulites novas a cada 3
meses e elas pararam de aparecer. As velhas continuam e umas novas que tinham
acabado de aparecer deram uma sumidinha. Ao mesmo tempo, como emagreci muito,
murchei pra caramba, fiquei flácida. Isso porque preciso comer direito, mas
sendo mãe de 2 fica difícil.
Em suma, hoje
vivo tranquilamente sem o leite de vaca e não pretendo voltar a consumi-lo,
mesmo quando houver crises, pois vi que o emocional é o segredo e segurar as
pontas até passar uma crise de vontade de doce-de-leite vale a pena. Minha
vontade é apenas eu e Aurora podermos comer fora sem perigo, aceitar um
pão-de-queijo, um pedaço de bolo, um pastel de queijo sem medo. Essa dieta me
mostrou um leque de opções culinárias muito grande. Conheci histórias de
crianças com alergias múltiplas, onde as mães praticamente moram na cozinha
para garantir a felicidade e nutrição dos filhos.
Eu vi o quanto
eu era preconceituosa com alimentações alternativas, tipo sem glúten, sem
leite, sem carne,... Abri minha mente para novos sabores. Vi Marco Túlio aprendendo
a fazer receitas, mesmo com minha cara de raiva nos momentos de crise, e
aprimorando cada uma delas com seu toque de pai que pensa na saúde da filha.
É uma dieta
simples e ao mesmo tempo complicada, mas que me mostrou a importância de nos
alimentarmos bem, da maneira mais viável para nossa realidade, desde que tenha
o ingrediente principal: amor.
Imagem: Eu sorridente abraçando Aurora que faz uma careta