Conversar sobre abortos é algo bem
comum. Há sempre uma história em nossa família, no ambiente de trabalho e entre
as amigas. Algo que a gente comenta e tal, beijo, tchau, vamos trabalhar e fim
de papo.
Aí um belo dia você engravida e
todas aquelas historinhas corriqueiras se multiplicam, deixando no ar a
pergunta: por que as pessoas adoram contar histórias – as piores - de abortos
para mulheres grávidas?
Claro, claro, muitas pessoas
apenas querem o nosso bem e então nos dão uns pequenos (gigantes) alertas, para
termos cuidado, etc. Então cabe a nós grávidas a ter paciência, saber relevar
certos comentários do tipo que a vizinha da fulana, com 8 semanas de gravidez,
usou o mesmíssimo tipo de cinto na barriga que você está usando e perdeu o
bebê.
E os ‘causos’ não são apenas de
pessoas distantes e que nunca engravidaram não. Grande parte dos exemplos de
bebês que nasceram mortos com 9 meses de gestação estão dentro da própria
família. E são relembrados em vários almoços. E só porque a grávida resolveu
fazer uma faxina na sua casa aos 5 meses de gravidez, surgem várias mulheres que
perderam o bebê fazendo faxina ou tiveram sangramento naquela mesma semana
fazendo algum outro esforço.
“Toma cuidado”, “Não vá fazer força”,
“Cuida desse bebê aí dentro”, “Chama alguém para te ajudar” e, para finalizar
com chave de ouro a faxina: “Sabia que a
fulana perdeu o primeiro filho assim, igualzinho você, fazendo faxina, né?”.
Saco.
E nós, grávidas, temos que ter
paciência e responder que “nossa, que coisa, mas eu tô pegando leve, obrigada”
enquanto pensa “que bosta essa fulana
perdendo filho faxinando. Vai ver ela resolveu faxinar o telhado da casa,
carregar sofá nas costas pra tirar a poeira do chão e degustar os produtos de limpeza,
não?”
Uma grávida geralmente tem vários
sentimentos secretos. É um momento de dúvida, ansiedade, tristeza, felicidade e
medo. Eu, no começo, fiquei com muito medo de perder a qualquer momento. Sonhei
com sangue nas paredes, na calcinha, na privada e na cama. Tudo fruto daquelas
conversas inocentes que eu tinha sobre abortos e que vieram à tona desde o
POSITIVO. Então, contar histórias de abortos para grávidas não ajuda muito, só
piora. Por melhor que seja a intenção da pessoa, SÓ PIORA.
Nós grávidas continuamos tendo
instintos, inteligência e raciocínio. Portanto, nós conhecemos nosso limite e
se alguma coisa der errado por aí, não é necessariamente por causa de um cinto
ou um salto alto, ok? OK??? Com certeza vamos aprender a lição, conhecer mais o
nosso corpo e saberemos fazer diferente na próxima gestação, ok?
Enquanto vamos aprendendo a
relevar certos comentários, as pessoas de nosso convívio poderiam aprender a
pegar todas as historinhas de bebês que saíram durante o xixi da gestante que
andou de salto o dia inteiro e jogar fora (pra não falar #enfiarnocu).
Que tragam mais mil e uma
histórias de sucesso gestacional!