segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Paisagem de uma rotina


Engana-se quem pensa que ficar em casa com os filhos o dia todo tem sido minha melhor escolha.
Foi minha escolha. Respeitei minha vontade, meu instinto, meu interior e sei que fazer diferente disso é muito difícil. Mas os conflitos internos aparecem cada vez mais.

Deve ser porque exagerei. Deve ser porque estamos numa fase mais cansativa mesmo e logo passa.
Mas desde que resolvi não voltar para o trabalho após minha licença-maternidade, dias de muita gratidão e desespero dividem minha vida.

Sem dúvida nenhuma minha entrega e dedicação à maternidade me fizeram muito bem. Como pessoa eu melhorei muito. É um sonho realizado, é fazer aquilo que eu sempre quis. É aprender a deixar de ser egoísta, é abrir mão de muitas coisas pelo outro.

Abrir mão de muitas coisas pelas minhas filhas me ajudou a ser mais prestativa com o próximo, ser mais paciente.

Vê-las crescendo e aprendendo coisas graças a mim é o melhor disso tudo. Ver Alice brincando e guardando seus brinquedos, pegando meus sapatos e depois guardando porque eu ensinei. Ver coisinhas simples como primeiro passo, desmame natural, palavras, sons. Poder acordar com elas, dormir com elas todos os dias. Cozinhar, plantar, correr. Lavar roupas e tê-las do lado lavando também com suas bacias é um presente. Fotografar, ser fotografada e elas ali perto. Poder ter esses momentos não tem preço. Mas... mas de vez em quando a coisa desanda.

Quando uma mãe sai para trabalhar e deixa seus filhos aos cuidados de outros, pode ser que ela saia feliz ou com o coração partido. Pode ser que ela saia tranquila e segura de que ainda assim não perderá os melhores momentos. Pode ser que ela leve junto na bolsa a culpa e pense que poderia largar tudo. Não importa a escolha de uma mãe, em um momento tudo vai desandar.

Eu tenho buscado um equilíbrio entre escolhas. Uma forma de trabalhar sem deixá-las por muito tempo. Sabe por quê? Porque eu vi que extremos não ajudam em nada. E chegaram os dias em que de nada vale eu ficar com elas o dia todo, se eu passo o dia todo infeliz, cansada e estressada. Porque eu vi que de nada tem adiantado deixar elas guiarem uma rotina se eu mal consigo conversar com o pai delas aqui dentro de casa. Fácil entender porque um relacionamento pode acabar por causa dos filhos. A paciência, a cumplicidade e a sintonia do casal precisam ser fortes.

Acordar, tentar estudar, contar com a sorte delas não acordarem antes das 9, de não ter xixi e cocô no chão, de não ter que ficar de pijama e sem escovar dentes até 13hs ou até o pai chegar do trabalho está me esgotando. Elas não têm culpa e é nelas onde mais desconto minhas frustrações e isso não vale a pena. É preciso entrega e aceitação, coisas que eu já não consigo mais ter porque eu preciso de ser alguém além de mãe. E quando tento, tem um grito, um chamado, um tombo. Sinto que preciso dar uma saída de cena. De dizer que vou sair e já volto. E sair sem medo.

Como sair sem medo? Aos poucos, muito aos poucos tenho conseguido. Ainda preciso de muita força de vontade para mudar essa rotina que me engoliu, que me cobriu. Essa rotina que me tira quilos e mais quilos na balança, que me traz gritos, lágrimas e me deixa perdida.

Que um dia eu possa olhar para trás e pensar: ufa, passou, consegui.

6 comentários:

  1. Tenho um filho de 2 anos e 9 meses e uma filha de 6 meses. Te acompanho faz tempo. Suas filhas são lindas demais Carol!
    E era isso que estava precisando ler hoje! Obrigada.
    Vai passar!

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  2. Oi Carol! Sinta-se abraçada. A busca pelo equilíbrio é uma constante na vida de mãe. Eu que saio às vezes me sinto em falta, culpada por estar cansada ao final do dia. Enfim, vamos tentando, um dia de cada vez, achar o meio termo.

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  3. É bem isso que você disse, tenho um filho que completa 3 anos em setembro, trabalho fora é as culpas são as mesma, o cansaço é incontrolável. Cada mãe sabe o que faz para seus filhos, e sempre é tentando fazer o melhor. Beijos e força

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  4. Oi!
    Acompanho seu blog desde que estava grávida também (minha filha faz 3 anos em outubro) e acho que entendo o que você está passando. Realmente, é difícil essa escolha. Para mim, parar de trabalhar nunca foi uma opção, porque ganho mais que meu marido e não temos salários bons. Sou professora e trabalhar apenas um período nunca é suficiente, então sempre trabalho período integral. Após o nascimento da Valentina, no meu cargo efetivo na rede municipal eu tive 7 meses de licença, mas como no outro período trabalhava em uma escola privada, voltei após 4 meses. Ganhava pouco neste emprego, mas como era uma escola com berçário eu preferi continuar para ter tranquilidade de me separar dela quando fosse a hora. Durante 3 meses íamos e voltávamos juntas, pegava 3 ônibus para chegar na escola carregando-a no canguru. Quando voltei para o outro cargo, saía de casa muito cedo e ela ficava dormindo, meu marido a levava e, quando eu chegava na escola às 12:30h, ia correndo dar uma abraço e matar a saudade, sem contar as diversas escapulidas ao longo do dia, até chegar 19h e pegá-la para irmos embora. Se eu estava no meu outro emprego e ela fazia alguma gracinha ou participava de alguma atividade, o secretário fotografava e me mandava por WhatsApp. Os primeiros passos dela eu não assisti pessoalmente, mas sim através de uma filmagem de câmera de monitoramento do berçário (a escola tinha câmeras em todos os espaços frequentados pelas crianças), porque o secretário viu ela andando e filmou para me mostrar. Fui privilegiada até ela completar 1 ano e 2 meses, quando realmente precisei sair desta escola e, ao colocá-la em outra escolinha, senti o drama da separação: coração apertado, insegurança, culpa... Ligava umas 3 vezes por dia para saber como ela estava. Por uns 3 meses fiquei trabalhando só de manhã, chegava em casa por volta das 14 h, mas era inviável buscá-la antes de ônibus na creche, afinal já pagava regime integral. Então optei por fazer o trabalho de casa nas 4 horas em que ficava sozinha: limpava a casa, lavava a roupa, cozinhava, preparava minhas aulas. Assim, quando ela chegava meu tempo era exclusivamente dela, com qualidade e atenção integral.
    Depois, ao voltar a trabalhar período integral, tenho menos tempo para ela durante a semana, e ela exige muito a minha atenção. Tento equilibrar e, nessa história, algo sempre sai perdendo: ora a casa bagunça, ora a roupa acumula, ora meu estudo fica prejudicado (estou fazendo minha 2ª faculdade).
    Neste ano, para ficar mais tempo com ela, optei por entrar mais cedo no trabalho e sair a tempo de buscá-la na creche e voltar de ônibus para casa, sem ter que esperar o marido que sai mais tarde. Assim, lanchamos juntas entre um ônibus e outro, vamos ao supermercado, brincamos no parquinho do condomínio, vamos à feira comer pastel...
    Admito: não sirvo para ficar em casa o tempo todo, e não acho que seja "menos mãe" por isso. Tem dias estressantes em que penso que até seria bom ficar em casa, mas eu não aguentaria um mês nessa rotina. Gosto de trabalhar fora e gosto de ser mãe. A fase da culpa já passou. É mais fácil me culpar por não dar atenção à Valentina quando estou em casa fazendo alguma tarefa do que por estar trabalhando e a deixando na creche.
    Respeite sua vontade. Faça o que lhe deixa feliz. Suas filhas vão reconhecer, mais tarde, seu esforço e tudo que já fez até hoje por elas, mas o maior exemplo que você vai dar é: faça sempre o que for preciso para sua felicidade...
    Força e fiquem com Deus!

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    1. Oi Renata! Não sei se você vai ler minha resposta, mas se ler, saiba que suas palavras me surgiram num momento ideal, num momento em que eu precisava muito ler algo assim. Obrigada!

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  5. Oi Carol
    Vi seu blog num blog amigo e me bateu a curiosidade qt ao título do post.
    Eu não tive opção, tive q voltar a trabalhar qd Arthur tinha 5 meses, n ganho mt e marido tb n, então sacrificar um salário seria inviável pra tds nós!
    Eu sentia mt falta, dó de deixar ele sendo cuidado na creche, mas pensava que seria pior eu ficar em casa, racionando mts coisas por falta do meu salário e além de td, eu n sei ficar em casa...

    Se tranquilize, avalie racionalmente td a situação, os prós e os contra de cada situação, ficar em casa ou voltar a trabalhar.
    No final se atente ao seu coração, ouça o que ele te diz, imagine a cena e qual te fizer mais feliz, escolha ela.

    Mt boa sorte, é como eu digo algumas vezes: 'ser mãe é pra descer do paraíso'
    heheheheheheeheeheh
    Ninguém e menos ou mais mãe por causa dessas escolhas!

    Bjoooos
    muitospedacinhosdemim.blogspot.com.br

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